


O PÓS TRATAMENTO NO MODELO AMBULATORIAL
De acordo com McLellan, dois tipos de tratamento para dependência de substâncias se mostram eficientes. Aquele oferecido por Alcoólicos Anônimos e um outro tipo, descrito como Programa de Substituição de Heroína por Metadona, ambos paradoxalmente opostos no que se refere ao oferecimento de uma substância para aplacar o uso da outra e na postura rígida dos grupos de AA quanto ao uso de qualquer substância que cause dependência. No entanto, apesar do paradoxo, o autor concluiu que ambos funcionam, talvez porque tenham um aspecto em comum: a duração do tratamento, que é longa, sem tempo predeterminado.
A dependência de substâncias tem características semelhantes à doença crônica (como diabete, por exemplo), de modo que, justifica aquele autor, o tratamento mais longo, evita recorrências, trazendo resultados mais eficazes ao longo do tempo.
O grupo de pós tratamento tem objetivos voltados à prevenção da recaída, ao reforço dos comportamentos funcionais apresentados pelos pacientes para manutenção da abstinência e principalmente ao reforço no treino de habilidades de enfrentamento de situações de risco e habilidades sociais, bem como pretende reforçar o aumento dos comportamentos que levem a atividades prazerosas, evitando uma situação na qual o desequilíbrio entre prazeres e deveres esteja presente. Esses objetivos têm uma relação estreita com o tratamento, pois dizem respeito ao problema do paciente em si.
Outros objetivos do grupo de pós tratamento estão ligados a explorar novas formas de lidar com situações de conflito em vários contextos da vida; desenvolver habilidades para manejo da ansiedade, resolução de conflitos e de problemas e possibilitar um espaço destinado ao autoconhecimento. Um objetivo importante diz respeito a discutir a reinserção sócio ocupacional, orientando e auxiliando cada participante a se planejar para atingir metas preestabelecidas (possibilitando o aumento da autoeficácia).
Em intervalos de tempo predeterminados, os pacientes devem ser avaliados para que se verifiquem quais podem ter alta do processo e/ou encaminhamento para outro serviço. A experiência com esse tipo de grupo de tratamento evidencia que os pacientes revelam ganhos em vários aspectos de sua vida, principalmente naqueles em que o consumo de substância interferia mais fortemente.
PRINCIPAIS DESAFIOS NO TRATAMENTO AMBULATORIAL
Tratamento voltado para o paciente.
Estudos evidenciam que pacientes com melhor nível educacional, dependentes sobretudo de álcool em vez de drogas ilícitas, recebidos com a indicação de seus em¬pregadores ou de instituições judiciais, aproveitam mais tratamento oferecido em um serviço ambulatorial.22 O desafio volta se para o paciente sem essas características, principalmente o jovem com uso de drogas ilícitas, sem a evidência de grandes perdas e com contexto sociofamiliar desestruturado, que está, até pelo tipo de tratamento oferecido, mais exposto a recaídas.
A elaboração de protocolos de conduta envolvendo o paciente no tratamento e seu compromisso com a abstinência,37 a especialização constante da equipe de trabalho e a revisão das condutas que apresentam resultados eficazes talvez sejam os primeiros passos para o fortalecimento da adesão ao tratamento e a obtenção de melhores resultados em um serviço ambulatorial.
Tratamento voltado para a família
Mesmo tendo informação quanto à necessidade da participação no tratamento, tem sido observado que as famílias apresentam dificuldade em se manterem aderidas aos grupos. Essa dificuldade aparece já quando a família nega a existência do problema; aos sinais de melhora do paciente, a tendência dos familiares é desistir da participação no tratamento. Uma sugestão que pode facilitar o ingresso e sua manutenção no tratamento seria abordar a família individualmente, usando técnicas motivacionais, com o objetivo de colocá la em um estágio de motivação que permitisse o enfrentamento da situação. A descrição do programa e dos possíveis ganhos do dependente com a participação da família no plano de tratamento é um aspecto que tende a auxiliar no aumento da motivação para a entrada e a permanência no grupo.
O fato de a família já ter passado por muitos tratamentos também dificulta a adesão, pois alguns membros se apresentam desesperançados e desanimados com o insucesso dos tratamentos anteriores. As famílias em geral procuram uma “receita de bolo”; quando não a encontram, tendem a desistir.